Suicídio na Visão Espírita e na Prática.


É um tema delicado, mas é necessário que seja abordado. É um tema que muitas vezes é evitado, seja por desconforto ou receio de tratar um assunto tão sensível. No entanto, discutir essa questão é essencial, especialmente em um mundo onde o número de estudos sobre o tema cresce a cada dia, com o objetivo de compreendê-lo melhor e identificar estratégias eficazes de prevenção.

Entre os fatores que podem desempenhar um papel protetor contra pensamentos suicidas, destaca-se a religião, que para muitos oferece um suporte emocional e espiritual significativo. Este estudo, em particular, busca explorar como as ciências e a Doutrina Espírita compreendem o fenômeno do suicídio e como podem contribuir para reduzir sua ocorrência.

Por meio de uma revisão teórica da literatura, sem restrições de data ou ano de publicação, foram analisados livros, artigos, teses, dissertações e outros materiais disponíveis em bibliotecas físicas e virtuais. O estudo evidenciou que as ciências têm se dedicado a compreender a dor e os fatores que levam uma pessoa a tomar uma decisão tão extrema, propondo medidas preventivas fundamentadas em dados e experiências.

Além disso, foi constatado que a Doutrina Espírita, se bem compreendida, pode atuar como um importante aliado na prevenção do suicídio, ao oferecer uma perspectiva que renova a esperança, fortalece e alerta o indivíduo em momentos de vulnerabilidade. Ainda assim, reconhece-se a necessidade de aprofundar as investigações sobre o tema, especialmente por meio de estudos de campo que ampliem o entendimento e a eficácia das ações preventivas.

Abordar o suicídio não é apenas necessário, mas também uma forma de salvar vidas, promover compreensão e cultivar empatia em nossa sociedade.

As causas do suicídio são diversas e frequentemente relacionadas à falta de compreensão sobre a Justiça x Misericórdia Divina. Entre os principais fatores estão o materialismo, a solidão, a depressão, doenças incuráveis, violência, maus-tratos, abusos, pobreza extrema, fanatismo religioso, negligência e abandono familiar, perdas afetivas, dependência de álcool e drogas, transtornos mentais, desesperança e influências obsessivas.


1. Suicídio Intencional ou Direto.

O suicídio intencional resulta de um ato consciente, planejado e, às vezes, com riqueza de detalhes. Deve-se considerar não só a infração às Leis Divinas, mas também o ato de violência que se comete contra si mesmo, por meio da premeditação mais profunda, o que gera um remorso muito mais intenso quando o espírito desperta no outro plano.

Dentre as várias consequências, a consciência desperta atormentada de muita dor, em terríveis níveis de sofrimento espiritual, suportando as más companhias de outros espíritos, em semelhante situação, que atraiu para si própria, pelo tempo necessário à sua renovação. Contudo, as consequências não causam somente o sofrimento no íntimo da consciência, mas há também os desequilíbrios provocados no corpo espiritual, com implicações inevitáveis para as próximas encarnações.

É assim que, após um determinado período de reeducação, os espíritos suicidas retornam ao plano carnal, com severas limitações físicas, que lhes reflete as penas e angústias na forma de doenças e deficiências.

Aqueles que se envenenaram, de acordo com o tipo de tóxico que utilizaram, renascem trazendo problemas digestivos, doenças sanguíneas, deficiência cognitiva e disfunções hormonais, entre outros tantos males; os que incendiaram o próprio corpo, amargam doenças de pele; os que se asfixiaram, seja por afogamento ou por inalação de gás tóxico, trazem implicações nas vias respiratórias e doenças pulmonares crônicas; os que se enforcaram convivem com dolorosos distúrbios do sistema nervoso, como paralisia cerebral; os que estilhaçaram a própria cabeça, experimentam deficiências mentais; e os que se jogaram de grandes alturas reencarnam portando disfunções musculares ou ósseas.


2. Suicídio Involuntário ou Indireto.

O suicídio involuntário é aquele que, aparente e imediatamente, não leva ao desencarne pois resulta de hábitos e comportamentos viciosos, ao longo dos anos que lesam a saúde física ou psíquica, ou ambas, e abreviam a existência programada na Terra. Além desses fatores prejudiciais, deve se atentar para práticas que, embora não estejam visando a sua própria aniquilação, podem resultar em tragédias, como atividades de risco por simples hobby ou prazer. O indivíduo que põe em risco a sua vida, fazendo escaladas perigosas, aventurando-se em montanhas, colocando-se em grandes velocidades, apenas pela adrenalina, está assumindo o risco de morrer e, se isso o levar à morte, resultará em graves consequências espirituais.

Para justificar tal entendimento acima, basta lembrar do Espírito de André Luiz, que foi chamado de suicida no umbral, embora não tenha cometido nenhum ato voluntário que o levasse ao desencarne antes do tempo. Ele bebia em excesso e isso diminuiu seu tempo de vida aqui na terra. Para dar mais um exemplo simples, um cigarro diminui a vida em 8 minutos. Um maço reduz a existência em 160 minutos. Um indivíduo que fuma um maço/dia por 30 anos, reduzirá a sua vida em 1.200 dias.

Sabemos que as pessoas têm que trabalhar e assim se expor a riscos, seja dentro de um ônibus, carro ou nas ruas, onde podem sofrer latrocínios ou acidentes, além do próprio ofício que também põe em risco a vida de muitos trabalhadores. No trajeto do dia a dia e no trabalho em si, é o caso em que enfrentamos muitas adversidades, mas não por adrenalina e gosto pelo perigo, mas porque o indivíduo precisa para manter a si e sua família.

Já com relação ao comportamento de risco, sem a menor necessidade, só pelo prazer da audácia e arrojo, de acordo com cada caso, também pode ser considerado pelas Leis Espirituais como um suicídio, mesmo que não intencional. As consequências podem ser diversas do ato voluntário, definido acima, mas serão adequadamente rigorosas, de acordo com as condições, compreensão e o procedimento de cada um.

Por experiência própria, cito aquele que foi o meu melhor amigo de infância. Morei em cidade do interior, todos da rua eram de uma mesma classe social e tínhamos que estudar muito visando um futuro melhor. Quando chegamos perto da maioridade, cada um seguiu um rumo diferente, mudando de bairro e até de cidade. Pelo que me lembro, ele não deu muito certo na vida. Acabou se entregando à bebida e adquirindo cirrose. Muitos anos depois, encontrei com sua irmã, enfermeira, e ela me disse que, num de seus plantões, recebeu o irmão em coma alcoólico. Ele sabia que não podia mais beber, mas ingeriu muita bebida de uma vez e acabou morrendo. Fico pensando hoje, foi um suicídio voluntário? Talvez...

Ainda no campo de experiências próprias, na minha adolescência, tive uma bicicleta da marca "monareta". Aqueles da minha geração vão se lembrar desse tipo. Eu fazia verdadeiras loucuras com aquela bicicleta. Descia morros muitos inclinados sem encostar no freio, só pelo prazer de vencer o medo, mostrar-me forte e vencer desafios. Na adolescência podemos ter um leve atenuante diante das iminentes consequências, pois ainda não temos a noção exata do que fazemos. Meu "Anjo da Guarda" teve muito trabalho comigo. Passados muitos anos, já na idade madura, depois de aposentado, voltei a andar de bicicleta, de modo agressivo, não com a habilidade de antes mas correndo tanto ou mais riscos como antigamente, pois não usava nenhum equipamento de segurança, não tinha mais o mesmo equilíbrio e me expunha a riscos sem a menor necessidade. Depois de alguns meses refleti um pouco e parei com tudo. E se Eu me desequilibrasse, caísse no asfalto ou na calçada e antecipasse lucidamente o meu desencarne? Seria um suicídio involuntário? De novo : Talvez...

Certa vez me deparei com uma pergunta que pode ter duas respostas: O suicídio é um ato de coragem ou é uma atitude covarde? Coragem porque não é fácil se deparar com a beira de um precipício, a grade de um prédio ou puxar o gatilho. Covardia porque não foi capaz de resolver os problemas da vida que exigiam esforço, coragem e resignação. Independente da minha filosofia religiosa, sempre optei pela segunda resposta.

Segundo o tipo de suicídio, direto ou indireto e após a reencarnação, surgem as deficiências orgânicas, que correspondem a diversos problemas congênitos, inclusive falta de membros, o câncer, a surdez, a mudez, a cegueira e as deficiências mentais, que servem como terapia providencial para a cura da alma.

Em paralelo a estes quadros de provação regenerativa, a medicina, por outro lado, em sua missão redentora, auxilia e recupera os enfermos de acordo com os créditos morais que reconquistaram e segundo o merecimento de cada um.

Cuidemos, pois, da nossa existência terrena como um bem muito precioso, porque nossos corpos são sempre instrumentos divinos, para que neles aprendamos a crescer para a luz e a viver para o amor, perante a glória de Deus.


Comentários de Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Questão 957

"A observação mostra, realmente, que os efeitos do suicídio não são idênticos. Há, porém, os que são comuns a todos os casos de morte violenta e que resultam da interrupção brusca da vida. Isso se deve principalmente à persistência mais prolongada e tenaz do laço que une o Espírito ao corpo, já que esse laço se encontra em todo seu vigor quando é rompido, enquanto na morte natural ele se enfraquece gradualmente e muitas vezes se desfaz antes mesmo que a vida se haja extinguido completamente. As consequências desse estado de coisas são o prolongamento da perturbação espiritual, sucedendo um período de ilusão em que o Espírito, durante mais ou menos tempo, julga ainda estar encarnado.

A afinidade que persiste entre o Espírito e o corpo produz, em alguns suicidas, uma espécie de repercussão do estado do corpo sobre o Espírito, que assim sente os inevitáveis efeitos da decomposição, fazendo-o experimentar uma sensação cheia de angústias e de horror, estado que também pode persistir pelo tempo que devia durar a vida que foi interrompida. Esse efeito não é geral, mas, em caso algum, o suicida se livra das consequências da sua falta de coragem e, mais cedo ou mais tarde, expia, de um modo ou de outro, a culpa em que incorreu. É assim que certos Espíritos, que haviam sido muito infelizes na Terra, disseram ter-se suicidado na existência anterior e submetido voluntariamente a novas provas, para tentarem suportá-las com mais resignação. Em alguns, verifica-se uma espécie de ligação à matéria, de que inutilmente procuram desembaraçar-se, a fim de voarem para mundos melhores, cujo acesso, porém, lhes é impedido. Na maior parte deles, é o pesar de haver feito uma coisa inútil, que só redundou em decepções.

A religião, a moral, todas as filosofias condenam o suicídio como contrário às Leis da Natureza. Todas nos dizem, em princípio, que ninguém tem o direito de abreviar voluntariamente a vida. Mas por que não se tem esse direito? Por que o homem não é livre para pôr termo aos seus sofrimentos? Estava reservado ao Espiritismo demonstrar, pelo exemplo dos que sucumbiram, que o suicídio não é uma falta apenas por constituir infração de uma lei moral, consideração de pouco peso para certos indivíduos, mas um ato agravante, pois quem o pratica além de não se ver livre dos seus sofrimentos ainda acumula outros mais. O Espiritismo nos ensina isso não só na teoria, mas pelos fatos que os espíritos testemunham."


Leia mais em O Evangelho segundo o Espiritismo – Allan Kardec – Cap. V, item 16.

Para aqueles que querem se aprofundar neste aprendizado e que já tenham um preparo espiritual, recomendo o Livro "Memórias de um Suicida", psicografado por Yvonne do Amaral Pereira, cuja autoria é atribuída ao espírito do romancista português Camilo Castelo Branco. A narrativa é muito intensa e detalhada. Aqueles que ainda pensam que o suicídio é uma saída para os problemas terrenos, vão mudar de ideia já nas primeiras páginas.



A Organização Mundial da Saúde (OMS) mostra, em várias publicações, que o suicídio tem aumentado nas últimas décadas, crescendo significativamente em todos os países, envolvendo todas as faixas etárias e, também, vários contextos socioeconômicos. Pode-se dizer que o suicídio está entre as dez principais causas de morte, ou seja, quase um milhão de pessoas tiram a própria vida todos os anos no mundo. A cada 45 minutos, em média, um brasileiro se suicida. Durante todo o mês de setembro aconteceram diversas ações pelo Brasil, em um movimento chamado de Setembro Amarelo, para chamar a atenção da população ao problema.




A população LGBTQIA+ é uma das que mais sofrem com essa epidemia silenciosa. De acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, essa parte da sociedade têm 5 vezes mais chances de cometer suicídio do que heterossexuais e dependendo do contexto, esse número pode chegar até 20 vezes. Quem se suicida é porque está doente e/ou vive em um ambiente adoecido.

“Do outro lado da linha, uma voz suave e firme atendeu ao meu chamado. Passava das duas da manhã. A insistência afetiva da atendente me encorajou a dizer as primeiras palavras: não está tudo bem! Você gostaria de conversar sobre o que te aflige? Disse ela. Chorei. Lembro que fiquei quase uma hora chorando e ela, pacientemente, me ouvindo. De vez em quando dizia que estava ali para me acolher e que eu podia confiar nela. A voz da atendente lembrava a voz da minha mãe, motivo, inclusive, do meu sofrimento. Sabe, disse tentando conter o choro, sempre fui um bom filho, mas minha mãe não aceita o fato de eu ser gay. Ela disse que sente vergonha de mim e por isso estou pensando em me matar, para ela não ter mais que sentir vergonha de mim. Ela me fez desistir da ideia.”
Relato de um amigo amparado pela atendente do CVV.

Segundo dados do Grupo Gay da Bahia, em 2017, das 445 mortes de LGBTIs no Brasil, 58 foram suicídios.

Eu mesmo me deparei com esse problema de perto. No meu Livro de Visitas, que é visto pelo Menu do lado esquerdo da tela, com o Botão "Opiniões", um Homossexual me escreveu e Eu tive que reparar alguns fatos aqui escritos na seção "Perguntas Frequentes" (F.A.Q do mesmo Menu). Pedi desculpas pela frieza do que havia copiado da FEB - Federação Espírita Brasileira e do Portal do Espírito e colado aqui, neste site. Era algo que discriminava os Homossexuais. A religião pode ser parte da solução, mas, às vezes, alguns de seus princípios geram o sofrimento, demonizando identidades de gênero, criminalizando corpos dissidentes, sufocando desejos e proibindo ser quem se realmente é. Tudo isso afeta a saúde mental das pessoas, em especial daquelas que não se encaixam nos padrões heteronormativos.


Conclusão

O ser humano é o único animal que possui consciência da morte e pessoas, com tendência ao suicídio, têm algum tipo de sofrimento mental e precisam de atendimento médico de emergência seguido de tratamento de saúde por uma equipe multidisciplinar, com psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, etc.

Os comportamentos suicidas podem ser contextualizados como um processo complexo, que pode variar desde a ideia de retirar a própria vida, que pode ser comunicada por meios verbais e não verbais, até o planejamento do ato, a tentativa e, no pior dos casos, a morte.

Uma grande questão vinculada ao suicídio é que a prevenção é possível. Essas ações requerem uma ampla articulação em rede, envolvendo famílias, poder público, comunidades de fé saudáveis e a sociedade como um todo, além de uma escuta ativa, que deve sempre estar presente nesses diálogos.

Como espírita, sinto-me mais à vontade para falar dessa realidade. Nesse meio, a cobrança de uma vida retilínea é imensa e o medo do “umbral” (ou planos espirituais inferiores) são, quase sempre, a moeda de troca em diversos ensinamentos.

Para o espiritismo, o suicídio é uma triste ilusão porque somos seres imortais, e a vida continua, absolutamente, além da morte do corpo físico. Ao mesmo tempo que a doutrina espírita prega uma certa compaixão por aqueles que resolveram interromper a própria existência física, acaba atuando como outras religiões cristãs, afirmando que tal ato contraria a inclinação natural do ser humano para conservar e perpetuar a própria vida. Eu só estou certo de que precisamos falar de vida, precisamos falar de esperança. Acolher, aceitar, não julgar, compreender, respeitar! O importante é perceber que não está sozinho e que podemos ajudar.

Para o CVV (Centro de Valorização da Vida), o suicídio é um assunto complexo, pois ninguém se mata por um único motivo, mas a prevenção é possível e algumas ações podem ser feitas por todas as pessoas. Permitir que as pessoas desabafem e falem sobre seus sentimentos sem receber críticas é um meio de evitar que se pense na morte como solução para as dores.

Se você perceber que a pessoa não se sente à vontade para se abrir, deixe claro que você estará disponível para conversar em outras oportunidades. Você também pode indicar os serviços oferecidos pelo CVV, disponível em https://cvv.org.br ou pelo número 188, que trabalha para promover o bem-estar das pessoas e prevenir o suicídio, em total sigilo, 24h por dia e sem custo de ligação.


Referências: Instituição Espírita searabendita.org.br
Um olhar espírita sobre o suicídio e sua incidência sobre a população LGBTQIA+ - www.cartacapital.com.br
Psicologia e saúde em Debate - psicodebate.dpgpsifpm.com.br
Suicídio & Fé" - www.bbc.com
E-Locução: Conduntas autodestrutivas - Revista Científica da FAEX.
M.S - Secretaria de Atenção a Saúde do Adolescente: Depressão e Suicídio entre os Jovens, pag. 145 - 150, 189 - 193.


















Voltar à Página Principal