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Acervo da Revista Veja - Procure por Setembro de 2011- edição Nº 2235


Revista Veja - Medicina e Fé



No Espírito da Cura


Na luta contra o câncer no sistema linfático, o ator Reynaldo Gianecchini também recorre à cirurgia espiritual. Milhões de doentes graves aliam métodos alternativos ao tratamento convencional, agora com a aprovação da Medicina, que reconhece os efeitos positivos dessa prática.

Repórter de João Batista Jr.
Com reportagem de Adriana Dias Lopes, Alexandre Salvador e Giuliana Bérgamo.


Sábado, 20 de Agosto. Vítima de um câncer no sistema linfático raro e agressivo, o ator Reynaldo Gianecchini, de 38 anos, estava internado havia quase um mês no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Sua mãe, Heloísa, e a irmã mais velha, Cláudia, faziam-lhe companhia no quarto 925. Às 4 e meia da tarde, o ator deitou-se na cama de lençóis recém-trocados. Ele vestia uma camiseta branca. De barriga para cima, os braços estendidos junto ao corpo, Gianecchini fechou os olhos. No criado-mudo, à direita do leito, um copo de água mineral coberto com um guardanapo de papel. Por quinze minutos, o silêncio foi absoluto. Simultaneamente, a 400 quilômetros da capital paulista, na cidade de Franca, no interior de estado, o médium João Berbel, de 56 anos: deu início a mais uma de suas cirurgias espirituais a distância. De jaleco azul-claro, estendeu-se sobre uma das trinta macas de um galpão de 200 metros quadrados do Instituto de Medicina do Além (*).

Cerca de 400 pessoas acompanhavam o ritual. Eram parentes e amigos de uma centena de doentes em todos os cantos do Brasil. Entre eles, estavam os tios paternos do ator, Fausto e Roberta. Às 4 e meia, todos fecharam os olhos e "mentalizaram'' a cura dos entes queridos. Não é preciso levar fotografia do enfermo ou revelar a graça a ser alcançada - basta estar na mesma "sintonia fluídica", como define o médium. "Formamos uma corrente mento-eletromagnétíca", diz BerbeI. No dia seguinte ao procedimento espiritual, Gianecchini tomou a água mineral benzida pelo médium em três doses - antes do café da manhã, do almoço e do jantar.

Em sua luta contra a doença, o ator conta com os melhores especialistas do Brasil e recursos médicos extraordinários. Ele não dispensa, contudo, o acompanhamento do médium Berbel. Desde 1996, o então mecânico elétrico Berbel diz ter começado a incorporar o espírito do clínico geral Ismael Alonso y Alonso, o "médico dos pobres" - prefeito de Franca nos anos 50 e vítima de um infarto fatal em 1964. "É visível a melhora do meu sobrinho desde o início do tratamento com o doutor Alonso", afirma a tia Roberta. "Ele está mais confiante para seguir o tratamento convencional, pois tem a certeza de que vai superar o câncer." Gianecchini segue à risca as orientações de BerbeI. Uma semana antes e outra depois da cirurgia espiritual, por exemplo, ficou sem comer carne. Todos os dias, após o almoço, ingere uma cápsula de plantas ditas Medicinais, fabricada no laboratório do Instituto de Medicina do Além, na periferia de Franca.

A última vez em que Gianecchini e Berbel estiveram juntos foi na alta do ator, em 26 de Agosto. Depois de passar pela primeira sessão de quimioterapia Gianecchini recebeu a visita do médium. "O doutor Alonso colocou uma mão na cabeça e a outra no pescoço do Reynaldo, justamente onde está o foco do problema de saúde", lembra Berbel.

Em seguida, ainda conforme o médium, o espírito encarnado fez uma oração pedindo a cura, proferiu uma reza batizada de "Oração para Jesus" (de sua própria autoria) e encerrou o ritual com o Pai Nosso. Antes de desencarnar, o doutor Alonso teria dito a Gianecchini que saísse pela porta da frente do hospital e mostrasse aos fãs que estava pronto a enfrentar a guerra contra o câncer. "Eu me sinto forte, e parte dessa força vem do amor das pessoas que torceram por mim e me apoiaram", declarou Gianecchini, na saída do hospital. De presente, levou para casa um exemplar de “O Cavaleiro da Sombra”, em defesa dos Índios nos planos terreno e espiritual - um dos 175 livros escritos pelo médium.

A família Gianecchíni conheceu Berbel em Março passado. Na ocasião, o pai do ator, também chamado Reynaldo, começou a visitar o instituto semanalmente, como parte do tratamento de um câncer de pâncreas e de fígado - que inclui ainda sessões de quimioterapia em um hospital de Ribeirão Preto. Na semana passada, no entanto, Gianecchini pai cancelou a visita ao médium para ir a São Paulo encontrar seu filho, que pedia para vê-lo. Segundo as poucas pessoas que mantêm contato com o ator, ele ficou abalado com a notícia da morte do ator galês Andy Whitfield. O protagonista da série Spartacus sucumbiu a um linfoma do tipo não Hodgkin.

A busca de Gianecchini por amparo espiritual é compreensível, bastante comum e aceita por boa parte dos médicos. No Brasil, 80% dos pacientes oncológicos, em complemento aos tratamentos oferecidos pela Medicina tradicional, recorrem a terapias não convencionais - com frequência ligadas a algum tipo de crença espiritual. "Padres, rabinos, médiuns sempre entraram e saíram dos hospitais pela porta dos fundos", diz o mestre de Reiki Plínio Cutait, coordenador do departamento de Cuidados Integrativos do. Hospital Sírio-Libanês. "Só recentemente a Medicina passou a reconhecer a existência de tais práticas".

Gianecchine e Plínio Cutait

A FÉ VAI AO MÉDICO: Depois de se submeter à primeira sessão de quimioterapia, há três semanas o ator (à direita) deixa o Hospital Sirio-Libanês, onde Plinio Cutait (à esquerda) aplica Reiki nos pacientes.


Há três anos, Cutait lidera uma equipe multidisciplinar que aplica técnicas até pouco tempo atrás nunca vistas no ambiente hospitalar: massagens, meditação e quiropraxía (profissão que se dedica ao diagnóstico, tratamento e prevenção das disfunções mecânicas no sistema neuromusculoesquelético e os efeitos dessas disfunções na função normal do sistema nervoso e na saúde geral), entre outras.Trabalho semelhante é realizado há cinco anos pelo médico Paulo de Tarso Lima, no setor de oncologia do Hospital Albert Einstein, também em São Paulo. Conhecida como Medicina integrativa, essa filosofia ganhou corpo nos Estados Unidos há vinte anos. Em 1991, o médico Brian Bennan inaugurou o primeiro centro de Medicina integrativa dos Estados. Unidos (veja a entrevista). Hoje as 42 clínicas do tipo no país movimentam cerca de 30 bilhões de dólares anuais. Alguns desses centros estão ligados a instituições conceituadíssimas, como as universidades Harvard, Yale e da Califórnia, a Clínica Mayo e os hospitais Johns Hopkins e MD Anderson.


O MELHOR PARA O PACIENTE

O médico americano Brian Berman é o fundador do Centro de Medicina Integrativa da Universidade de Maryland, a primeira instituição de ensino dos Estados Unidos a abrir as portas às terapias complementares ou alternativas. Com doze professores e sessenta alunos, ela atende anualmente cerca de 10.000 pessoas. Ainda assim, a fila de espera é grande. A maioria dos pacientes é vítima de dores crônicas, e os tratamentos são baseados sobretudo em técnicas da medicina chinesa - acupuntura, massagens e aconselhamento nutricional. Os prestigiosos Institutos Nacionais de saúde (NIH) consideram o centro coordenado por Berman uma instituição de pesquisa de excelência. Aos 61 anos, o médico é praticante de meditação e Tai Chi Chuan. De sua casa, em Baltimore, ele falou ao repórter Alexandre Salvador.


Como boa parte dos médicos se rendeu aos tratamentos complementares?

Foi um longo processo. Lentamente, começamos a perceber que a maioria dos pacientes recorria a outros tipos de terapias, além das oferecidas pela medicina tradicional. Ou seja, os pacientes estavam em busca de algo para o qual a medicina tradicional não tinha resposta, especialmente para os casos de dores crônicas. Isso despertou a curiosidade de muitos de nós para outras abordagens terapêuticas. Hoje, boa parte da população dos Estados Unidos busca planos de saúde que ofereçam tratamentos complementares, como acupuntura e meditação. Estima-se que cerca de 70% dos americanos usem os tratamentos alternativos em complemento aos tradicionais.


Ainda há, contudo, muito ceticismo na comunidade médica em relação a tais abordagens, não?

Sim, mas, desde a criação do nosso centro, há vinte anos, observo mais e mais médicos e acadêmicos deixando o ceticismo de lado. Isso só foi possível porque hoje, graças aos avanços da Ciência conseguimos reunir evidências de que algumas dessas terapias realmente funcionam. No centro de medicina integrativa, dispomos de um banco de dados que reúne 40.000 estudos em andamento sobre o assunto. Na década de 90, eles não passavam de 1.000. Há que considerar, também, que a medicina convencional não oferece respostas para todos os males.


Os tratamentos complementares oferecem tais respostas?

O que posso dizer é que as doenças estão mudando. Males como a pneumonia têm causas simples - no caso, uma infecção, mas várias das doenças da modernidade, como obesidade ou diabetes, são crônicas e envolvem uma série de fatores de risco e mecanismos físiopatológícos. O stress, por exemplo, é um grande problema nos dias que correm e está, na maioria das vezes, na raiz da depressão e dos distúrbios cardiovasculares. Ainda não se inventou uma pílula contra o stress, mas ferramentas como acupuntura, o Reiki ou a meditação conseguem aliviar o sofrimento dos pacientes.


Tratamentos transcendentais, como cirurgias espirituais, têm alguma serventia?

Existem estudos comprovando que a fé tem efeitos positivos na saúde das pessoas. Esses pacientes se sentem mais otimistas em relação ao sucesso dos tratamentos convencionais e, assim, além de se cuidarem mais, eles colaboram mais com os médicos. Mas não existe a cura espiritual. Eu acredito em uma abordagem integrada. O objetivo é sempre usar o melhor da medicina convencional e o melhor da medicina complementar em defesa do doente. Se um paciente com câncer precisa de quimioterapia, é inevitável que se submeta ao bombardeio medicamentoso e enfrente seus terríveis efeitos colaterais. Não tem jeito. No entanto, se ele se sente bem rezando, meditando ou fazendo Tai Chi Chuan, essas práticas devem ser incorporadas à terapia.


O que o senhor tem a dizer a quem reluta em reconhecer os efeitos positivos da associação entre a medicina tradicional e a complementar?

Que é um comportamento inútil. Se alguém tem a perder com isso, esse alguém é o paciente. É preciso pôr o doente, e não a doença, no centro da discussão e perguntar: qual é o melhor tratamento possível para essa pessoa? Frequentemente, a combinação entre a abordagem convencional e as terapias complementares é a melhor saída.


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(*)Assista no Youtube. Links gentilmente fornecidos por :

Dércio Conceição
Divulgador da Doutrina Espírita
Email - dercio.conceicao@uol.com.br


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TV Folha - Curas Espirituais - João Berbel :

https://www.youtube.com/watch?v=BhZrdxLKrZg

https://www.youtube.com/watch?v=TGXdI5U4LKM

https://www.youtube.com/watch?v=PrgHG8npD90





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