REVISTA ISTO É - OUTUBRO DE 2008 - MÉDIUNS - A CIÊNCIA COMPROVA QUE O CÉREBRO DELES É DIFERENTE.
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O poder dos Médiuns
Como a ciência justifica as manifestações de contato com espíritos e por que algumas pessoas desenvolvem o dom.
Por Suzane Frutuoso fotos Murillo Constantino.
Imaginar que convivemos no cotidiano com pessoas que estão mortas vai além da compreensão sobre a vida – pelo menos para quem não acredita em reencarnação. Mas até na ciência já existem aqueles que conseguem casar racionalidade com dons espirituais. Esses especialistas afirmam que a mediunidade é um fenômeno natural, não sobrenatural. E que o mérito de Allan Kardec foi explicar de maneira didática o que sempre esteve presente – e registrado – desde a criação do mundo em todas as religiões. O que seria, dizem os defensores da doutrina, a anunciação do Anjo Gabriel a Maria, mãe de Jesus, se não um espírito se comunicando com uma sensitiva?
Apesar desse contato constante, os mortos, ou desencarnados, como preferem os espíritas, não aparecem em “carne e osso”. A ligação com o mundo dos vivos seria possível graças ao perispírito, explica Geraldo Campetti, diretor da Federação Espírita Brasileira. “Ele é o intermediário entre o corpo e o espírito. A polpa da fruta que fica entre a casca e o caroço.” O perispírito seria formado por substâncias químicas ainda desconhecidas pelos pesquisadores terrenos, garantem os adeptos do espiritismo. “É a condensação do que Kardec batizou como fluido cósmico universal”, afirma o neurocirurgião Nubor Orlando Facure, diretor do Instituto do Cérebro de Campinas. Nas quatro décadas em que estuda a manifestação da mediunidade no cérebro, Facure mapeou áreas cerebrais que seriam ativadas pelo fluido.
Comprovar cientificamente a mediunidade também é objetivo do psiquiatra Sérgio Felipe Oliveira, professor de medicina e espiritualidade da Faculdade de Medicina da USP e membro da Associação Médica-Espírita de São Paulo. Com exames de tomografia, ele analisou a glândula pineal (uma parte do cérebro do tamanho de um feijão) de cerca de mil pessoas. “Os testes mostraram que aqueles com facilidade para manifestar a psicografia e a psicofonia apresentam uma quantidade maior do mineral cristal de apatita na pineal”, afirma Oliveira.
Ele também atende, no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, casos de pacientes de doenças como dores crônicas e epilepsia que receberam todos os tipos de tratamento, não tiveram melhora e relatam experiências ligadas à mediunidade. “Somamos aos cuidados convencionais, como o remédio e a psicoterapia, a espiritualidade, que vai desde criar o hábito de orar até a meditação. E os resultados têm sido positivos.”
Uma pesquisa de especialistas da USP e da Universidade Federal de Juiz de Fora, publicada em maio no periódico The Journal of Nervous and Mental Disease, comparou médiuns brasileiros com pacientes americanos de transtorno de múltiplas personalidades (caracterizado por alucinações e comportamento duplo). Eles concluíram que os médiuns apresentam prevalências inferiores de distúrbios mentais, do uso de antipsicóticos e melhor interação social.
A maior parte dos cientistas acredita que a mediunidade nada mais é do que a manifestação de circuitos cerebrais. Alguns já seriam explicáveis, como os estados de transe. Pesquisas da Universidade de Montreal, no Canadá, e da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, comprovaram que, durante a oração de freiras e monges católicos, a área do cérebro relacionada à orientação corporal é quase toda desativada, o que justificaria a sensação de desligamento do corpo. Os testes usaram imagens de ressonâncias magnéticas e tomografias feitas no momento do transe.
O psiquiatra Sérgio Felipe Oliveira rebate a incredulidade. “Se uma pessoa está em cirurgia numa sala e consegue descrever em detalhes o que ocorreu em um ambiente do outro lado da parede, é possível ser apenas uma sensação?” Essa é uma pergunta que nenhuma das frentes de pesquisa se arrisca – ou consegue – a responder com exatidão. Da mesma maneira que todos os presentes à sessão de pintura em Indaiatuba saíram atônitos, sem conseguir explicar como alguém que conheceram numa noite foi capaz de decifrar suas angústias mais inconfessáveis.
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Matéria Completa em:
Revista Isto É - Médiuns
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Médico Sérgio Felipe - A Glândula
Pineal e o Espiritismo
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Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), em colaboração com a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), conduziram um estudo entre abril de 2020 e abril de 2021 para investigar possíveis bases genéticas da mediunidade. A pesquisa analisou o exoma — a parte do DNA responsável pela codificação de proteínas — de 54 médiuns com mais de 10 anos de experiência e 53 parentes de primeiro grau sem habilidades mediúnicas.
Os resultados revelaram 15.669 variantes genéticas exclusivas nos médiuns, afetando 7.269 genes. Muitas dessas alterações estão relacionadas ao sistema imunológico e inflamatório, além de tecidos epiteliais e à glândula pineal — estrutura cerebral associada à produção de melatonina e, em algumas tradições espirituais, à percepção espiritual.
A escolha de parentes como grupo de controle visou minimizar diferenças socioculturais e genéticas não relacionadas à mediunidade. Além disso, foram incluídos dois gêmeos idênticos médiuns, comparados a um terceiro irmão não médium, reforçando a análise das variantes genéticas específicas.
Embora o estudo não estabeleça uma relação de causa e efeito entre essas variantes genéticas e a mediunidade, os pesquisadores sugerem que essas alterações podem predispor os médiuns a perceberem aspectos da realidade não acessíveis à maioria das pessoas. Essas descobertas abrem caminho para futuras investigações sobre as bases biológicas das experiências espirituais.
O artigo completo pode ser lido em:
https://g1.globo.com/usp/mediunidade...
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